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Enquanto houver a Belíndia, o Bolsa Família precisa existir

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto:Gabriel Haesbaert (Diário)
Em Santa Maria, 6,1 mil famílias contam com o apoio do governo federal

O Bolsa Família completa uma década e meia de existência. Em Santa Maria, um município não industrializado e pobre - sem grande capacidade de se reinventar economicamente -, há bolsões de miséria por toda a periferia. Temos, atualmente, 6,1 mil famílias que dependem do programa. Desde 2004, quando foi criado, temos, pela primeira vez, um encolhimento do Bolsa em Santa Maria. Mesmo assim, a comemoração deve se dar com ares de constrangimento e de lamentação. Até porque o ciclo da pobreza, em certos momentos, só é rompido com incentivo pelas mãos do Estado.  

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Em um país em que benefícios (leia-se dinheiro público) são dados, via BNDES, para multimilionários alimentarem esquemas de corrupção entre o Estado e partidos políticos, falar em "gasto" com Bolsa Família é, no mínimo, falta de parâmetro. Será mesmo que uma média de pagamento de R$ 160 por família, como é a realidade em Santa Maria, para mais de 6 mil famílias abaixo da linha da pobreza, é desperdício de dinheiro?

O saldo desses 15 anos deste importante programa social, que dá o mínimo a quem não tem sequer acesso ao básico, é notório. Ainda assim há aqueles - em geral, quem dormem e acordam de barriga cheia - que afirmam que a ajuda financeira não passa de esmola. Ou o pior: moeda de troca eleitoral. Vale dizer que, de fato, o benefício criado na era Lula foi, nada mais, do que a união de auxílios, até então, dispersos que já eram concedidos na gestão FHC por meio do trabalho abnegado e valoroso da mais importante e atuante primeira-dama do nosso país: dona Ruth Cardoso, a personagem por trás do embrião do Bolsa Família. Foi a antropóloga que já acenava ao marido, o presidente FHC, para que se fizesse a unificação de diferentes programas (bolsa-gás, bolsa-alimentação, bolsa-escola, etc) em um único.

O fato é que o Bolsa Família se mostra assertivo e, ainda assim, necessário. Mas é preciso agora se chegar a uma nova fase: o do recuo e, posterior a isso, extinção. Mas para isso é preciso que o Estado dê capacitação e condições de essas pessoas conquistarem sua própria autonomia. O que não se dá em pouco tempo. Olhar para quem está à margem dos indicadores sociais e, muitas vezes, invisível é crucial. Educação de qualidade e cursos técnicos são vias a serem trilhadas.

Não se pode fazer de um programa - que deve ser tratado como ponto de partida para a mudança de uma realidade - como o ponto de chegada. Pensar nessas gerações periféricas é dever crucial do Estado para que o ciclo da pobreza seja rompido com educação de qualidade. Caso isso não ocorra, seguiremos sendo chamados de Belíndia. A palavra surgiu, ainda na década de 1970, pelo economista Edmar Bacha - e que viria a ser um dos pais do Plano Real - para sintetizar o Brasil. Ou seja, aqui temos a pobreza extrema da Índia e os avanços e a riqueza da Bélgica. Então, enquanto a Belíndia figurar no nosso mapa social, o Bolsa precisará se fazer presente. Gostemos ou não.

Confira na edição desta terça-feira um levantamento dos 15 anos do programa em Santa Maria.

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